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Defesa de dissertação de Júlia Rebouças
Artista – Corpo – Cidade – Política – Arte: relatos sobre Artur Barrio e sua obra
Escola de Belas Artes da UFMG, 19 ago. 2011.
Área de Concentração: Arte e Tecnologia da Imagem.
Orientadora: Profª Drª Maria Angélica Melendi.
Resumo
Durante os anos 1960 e 1970, momento em que diversos países latino-americanos viviam sob regimes ditatoriais, importantes e contundentes manifestações artísticas se desenvolveram. Diferenciando-se da produção em curso na América do Norte e na Europa, os artistas que atuavam no Brasil e na América Latina reagiam a um panorama de coerções, perseguições e humilhações. A atuação como artista neste contexto acabou por configurar um novo jeito de se relacionar com a arte, com o outro, com seu corpo, com a cidade. Esta pesquisa procura identificar as qualidades desse artista e as possibilidades criadas por ele para fundar senão um outro mundo, ao menos uma outra utopia. Neste contexto, a obra de Artur Barrio foi escolhida pela possibilidade de articular um pensamento sobre esse período, particularmente ao analisarmos suas situações, obras-acontecimentos. As situações aconteceram fora das cercanias dos museus e galerias, tomaram a cidade, abriram mão do público especializado da arte e foram ao encontro do cidadão comum, em sua vida cotidiana. Fizeram uso de materiais pouco nobres, confundiram-se com lixo e tiveram como objetivo, segundo o artista, a criação de “pólos energéticos”. Desafiaram os padrões estéticos, contestaram a crítica. As situações criaram uma perturbadora confusão com uma realidade que, naqueles anos 1960 e 1970 era de violência. Uma análise mais detida foi feita a partir das obras Situação ORH ou 500 T.E em N.Y. CITY. (1969), Defl.–Situação-+S+Ruas Deflagramento de Situações Sobre Ruas (1970) e Situação T/T, 1 (1970). Esta última situação foi realizada como parte do importante evento Do corpo à terra, que teve lugar no Parque Municipal de Belo Horizonte, em 1970. Perscrutando os meandros da arte de Barrio e de sua geração, chegamos à ideia de um artista-sempre-político. Embora muitas leituras históricas já apontem a política como importante tema e motor da arte daquele tempo, quisemos com este termo enfatizar a atuação de um artista que transforma um contexto macropolítico por meio da criação de experiências artísticas que se inserem no real. Essas experiências teriam o poder de fundar o sentimento de uma outra realidade e convocar as forças revulsivas para um despertar de consciência e para mudanças, essas sim, na vida concreta e na política. O artista-sempre-político, portanto, se difere do artista que tem a política como tema, do artista militante, ou do artista engajado em um projeto ideológico. A atuação desse artista tem como características: a) a atuação no corpo (físico e social), envolvendo os sentidos, mais do que a razão, tendo a cidade como espaço de realização a priori; b) a apresentação pública de acontecimentos artísticos através de estratégias como a não nomeação como arte, mimetizando-se a eventos da esfera cotidiana, como ficção do real; c) a restituição e a potencialização da possibilidade da poética e da criatividade na experiência cotidiana, a partir da ação do artista como cartógrafo.